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Na ponta dos pés
O Terpsí conquista sua noite no Carlton Dance
14/03/1990
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A presença do Terpsí Teatro de Dança, no próximo Carlton Dance Festival deverá, no mínimo, sensibilizar os pais da bailarina Sílvia Silva, de 20 anos, da importância da carreira abraçada pela filha. Até agora eles estiveram irredutíveis em seus sonhos de ver a filha em uma carreira mais estável. “Vivem me perguntando por que que eu não faço concurso para a Caixa Econômica”, brinca a ex-futura bancária. Na verdade, a repercussão do convite para dançar no Carlton (dia 24 no Palácio das Artes em Belo Horizonte, dia 26 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e 31 e primeiro de abril no Municipal de São Paulo) ao lado de grupos como Alwin Nikolais and Murray Louis Dance Company, David Gordon’s Pick Up Company, Bill T. Jones/Arnie Zane Dance Company e outras grandes companhias internacionais, já foi mais além: o Terpsí acaba de fechar contrato de patrocínio com a empresa gaúcha Taurus, fabricante de armas, e a Riocell, responsáveis, respectivamente, pelos cenários e custos de mídia do espetáculo Quem é?, que será mostrado no festival.
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Quem é?, também, será uma pergunta bastante repetida pelos aficionados da dança no centro do país após a apresentação do grupo. Embora já conte com boa parte da crítica especializada no rol de seus admiradores o Terpsí existe há muito pouco tempo para que já tenha solidificado sua popularidade fora do Rio Grande do Sul: surgiu em junho de 87, com As Quatro Estações, no Teatro Renascença. Apesar do nome, a montagem pouco tinha que ver com Vivaldi. As Quatro Estações, no caso, representavam diversas fases da vida de uma mulher – Helena Katz, de O Estado de S. Paulo, por exemplo, não esconde seu entusiasmo ao afirmar que “é maravilhoso ter um grupo assim em Porto Alegre ou em qualquer lugar”.
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A temática feminina – que em abril de 1988 se repetiria em As Três Parcas, numa alusão às divindades gregas encarregadas de tecer o destino dos seres humanos – não é por acaso. Formado e dirigido apenas por mulheres – a participação especial do bailarino Geraldo Lachini, que também irá ao Carlton, é uma exceção – o Terpsí não pode nem quer fugir desta característica. Basta saber que seu nome se originou de Terpsichore, a musa grega da dança. A coreógrafa Carlota Albuquerque divide a direção com Eneida Dreher – as duas pertenceram ao Grupo Terra -, e não tem pudores ao definir sua linha de trabalho parodiando uma frase ouvida de outro diretor: “Nós somos democráticas, mas eu sou uma ditadora”, brinca. [...]

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Fonte: Revista Veja Rio Grande do Sul
Obs.: com correções