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Terpsí dança em nome do Brasil
O grupo gaúcho Terpsí (nome que deriva de Terpsichore, a musa da dança e da poesia para os gregos) será um dos dois representantes brasileiros no Carlton Dance Festival deste ano, em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. O Festival acontece de meados de março a início de abril. Quinta-feira, houve o lançamento num coquetel para participantes, realizado no Rio.
1990
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Apesar de existir há três anos, o grupo porto-alegrense Terpsí Teatro de Dança ainda não tinha experimentado, até a semana passada, o sabor do pleno reconhecimento. Mas alguns críticos do centro do país que no final de 89 estiveram no Dança, Porto Alegre, no Theatro São Pedro, guardaram as melhores impressões sobre a coreografia Quem é?, apresentada por seus oito integrantes. A resposta ao bom desempenho veio dias atrás, com o convite ao Terpsí para representar o Brasil no 4º Carlton Dance Festival, junto com um grupo carioca dirigido pelo espanhol Victor Navarro.
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Patrocinado pela Companhia de Cigarros Souza Cruz, o Carlton Dance é um festival internacional, realizado anualmente em três capitais e com a participação de dois grupos brasileiros. O Terpsí irá dançar no dia 24 de março em Belo Horizonte, dia 26 no Rio de Janeiro e dia 1º de abril em São Paulo, sempre em sessões compartilhadas com o Alwin Nikolais, dos Estados Unidos. A coreografia a ser mostrada será de novo Quem é?, onde são trabalhadas as sensações humanas quando alguém (esperado ou não) bate à porta.
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Essa coreografia foi criada para homenagear o dramaturgo Samuel Beckett no espetáculo A Morte Impossível, e consolidou, em 89, a união profissional de Carlota Albuquerque e Eneida Dreher. Carlota é coreógrafa e diretora geral do Terpsí e Eneida, assistente de direção. As duas foram também fundadoras do extinto Grupo Terra, que marcou época no Rio Grande do Sul.
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FÁBULA – Carlota e o restante do elenco sabem apenas que a indicação do Terpsí ao Carlton Dance Festival foi formalizada por Sheila Costa, uma das organizadoras da promoção e que também esteve presente ao Dança, Porto Alegre em 88. Mas ninguém do grupo ainda conhece pessoalmente. “Ela é uma fábula para nós”, brinca Carlota. A chance de ingressar num festival de porte internacional não deixa, na verdade, de ser fabulosa para um grupo que até aqui vem sobrevivendo de seus próprios integrantes. Além de dançar, eles se responsabilizam também pela parte braçal do trabalho. Quando Quem é? Foi montado, por exemplo, os figurinos do espetáculo foram criados e confeccionados por Leta Etges, uma das componentes do Terpsí.
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Agora, para levá-lo ao Carlton Dance, há outra dificuldade à vista: conseguir 8 mil 650 BTNs (NCz$ 14.700, hoje) para construir um novo cenário. Por enquanto, não há um centavo em caixa e as várias empresas solicitadas a colaborar se negaram, argumentando que não podem correr riscos enquanto não houver definições das mudanças econômicas pelo governo Collor. “O empresariado prefere investir no over a aplicar dinheiro em cultura”, queixa-se a diretora de produção do Terpsí, Rosane Severo.
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EMOÇÕES – Antes dela assumir essa função, no final do ano passado, tanto a produção como a divulgação das atividades do grupo eram feitas por amigos, gratuitamente. Com a tarefa nas mãos, Rosane utiliza a infra-estrutura da Fama Comunicações, empresa de propriedade das cantoras Elaine Geissler e Cynthia Garay (do Canto livre), para quem ela também trabalha como produtora.
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Embora seu elenco fixo seja composto só de mulheres, o Terpsí não é um grupo feminista, como Rosane faz questão de frisar. Essa particularidade é uma obra do acaso, que garantiu, no entanto, perfeita identificação com a natureza feminina no espetáculo As Quatro Estações, o primeiro realizado pelo Terpsí Teatro de Dança, em 87, no Teatro Renascença. O universo da mulher foi interpretado numa temática intimista, com a proposta de valorizar na coreografia, de modo especial, as emoções. Esta mesma preocupação marcou igualmente os trabalhos que vieram depois – As Três Parcas, Retrato V e Quem é?.
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Esta última coreografia exige uma presença masculina, preenchida pela atuação do bailarino Geraldo Lachini. Os outros nomes do elenco são Angela Spiazzi, Betine Alves, Cynthia Cveigorn, Cynthia Flach, Sandra Sachs, Sílvia Silva e Suzana Schoellkopf. A cenografia é de Paulo Azevedo; a iluminação, de Marga Ferreira e Clara Luz; a cenotécnica, de Jessé James; a contra-regra, de Carlos Meneguello e Dino Gomes; e a montagem e mixagem de áudio, de Murilo assenato.
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Autor: Rui Roberto Felten
Fonte: Jornal Zero Hora, 2º Caderno
Obs.: com correções

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